Coordenador do Zaragoza Activa, Raul Olivan, compartilha com público Santista os desafios experimentados para criar e manter um instituição contemporânea de criação de soluções para desafios locais e globais.
Um laboratório para promover a multiplicidade de públicos, temáticas, projetos, ideias, metodologias e pensamentos. Esta é a definição que o diretor do Zaragoza Activa, Raul Olivan Cortes, dá para o programa que ele vem coordenando há 5 anos em Zaragoza, cidade do interior da Espanha. O espanhol esteve em Santos nesta segunda-feira (30/12) para conhecer a cidade, apresentar sua experiência e dar início a um processo de parceria entre estes dois centros urbanos de porte médio que, apesar de muito diferentes, trazem alguns pontos em comum.
Pela manhã, Raul andou pelo centro da cidade, na região do mercado municipal e da catraia que faz a travessia para Vicente de Carvalho e conheceu a realidade das comunidades que vivem nas palafitas. Foi recebido pela equipe do Centro Cultural Arte no Dique, que há mais de dez anos leva cultura e cidadania às crianças e jovens de uma das maiores favelas sobre as águas do Brasil.
Em encontro promovido pelo projeto Tecnologias e Alternativas, pôde compartilhar sua experiência de inovação cidadã com um público bastante diverso reunido na Estação da Cidadania. O conceito de inovação cidadã se refere à criação de soluções, práticas e projetos com objetivos de melhorar a qualidade de vida das pessoas, diminuindo as desigualdade e fortalecendo a colaboração.
Com esta concepção, o Zaragoza Activa vem conseguindo integrar diferentes setores da comunidade de Zaragoza. O Estado é quem financia e dá musculatura para a iniciativa. As organizações sociais dão empatia, agilidade, articulação e questionam a burocracia. As empresas privadas contribuem para que os projetos tenham foco e viabilidade. A sociedade civil entra como usuária e também como produtora de soluções.
Desafio: LAB para todos
Formado em assistência social, com especialização em publicidade e marketing, Raul é funcionário público e por anos dirigiu a rede de Centros Cívicos em Zaragoza, um espeécie de CEUs ligado a secretaria de inclusão social da prefeitura local. Mas via nas estruturas rígidas muita dificuldade de promover processo de fato inovadores. Além disso, a falta de público das atividades gratuitas era algo que o desafiava. Sentia a necessidade de fazer coisas nunca feitas antes, ou seja, de se criar um laboratório. “Eu pensava num espaço aberto para a experimentação. Mas não restrito a apenas um pequeno público de especialistas.”, conta. E com estes elementos em mente ele criou o projeto do Zaragoza Activa com a ambição de consolidar um ecossistema de inovação na cidade.
Uma das características diferenciadoras deste projeto em relação a outros laboratórios no mundo, é de fato a participação de milhares de pessoas, de diferentes perfis, nas atividades ali propostas. Anualmente, o programa contabiliza cerca de 300 mil usos. A receita para isso foi criar uma espécie de “escada de acesso”. “Pensamos em programas com diferentes níveis de aprofundamento por parte dos participantes, que começa com propostas voltadas para um público amplo e que vai afunilando o grau de profundidade de envolvimento”, explica. São dois os principais atrativos de massa do programa.
De um lado, uma agência de emprego orienta e recebe centenas de desempregados que desejam um trabalho. Ali eles aprendem a organizar um currículo, entrem em contato com empresas com vagas abertas. Por outra porta, o Zaragoza Activa reúne jovens de todas as regiões da cidade para a biblioteca multimídia, o CUBIT, onde podem emprestar livros, gibis, games, DVDs, CDs, aprender idiomas, ou simplesmente se encontrarem uns com os outros. O CUBIT é um cubo de aço e vidro, desenhado de forma muito contemporânea, que distribui seu acervo e espaços de convívio agradáveis por 5 andares.
“Estes projetos são como iscas que atraem o público para que ele siga frequentando os outros programas da Azucarera (como é conhecido o projeto por estar localizado em uma antiga fábrica de açucar). A organização espacial do prédio faz com que para chegar nestes locais, os frequentadores tenham de passar pelo átrio central do edifício, um espaço multiuso, onde acontecem diversas atividades como palestras, feiras de troca, oficinas, atividades culturais etc. “Assim as pessoas começam a ter ideias. E então a alçamos para outros projetos onde elas serão formadas e impulsionadas a empreender”, complementa.
Disruptura, diversidade e abertura
Integram também o Zarazoga Activa, um escola de empreendedorismo, uma incubadora de empresas, uma espaço de co-working, uma rede de economia criativa local e um centro de pesquisa e investigação. Para se ter uma ideia da diversidade de possibilidades ali presentes, o grupo de especialistas ligado ao ThinkZac, está realizando o planejamento estratégico da cidade, vislumbrando as possibilidades para daqui 30 anos.
“Para promover a inovação é preciso nos aproximarmos da arte!”, defende o gestor espanhol. Ele nos conta que acabaram de lançar um novo projeto chamado “6 por 6”, no qual seis artistas são convidados a buscarem soluções para seis problemas apresentados por empresas. Ideias como essa ganham asas no Zaragoza Activa. Para que isso aconteça, segundo ele, é importante assumir o “caos” como parte da proposta. “Temos de ter uma estrutura líquida, que se adapte de acordo com as propostas que vão aparecendo, sem rigidez”.
Ao fim de sua palestra, Raul afirmou que se fosse começar novamente o Zaragoza, já o começaria organizando uma comunidade, e que com os comunicadores, artistas, produtores culturais, historiadores, professores, advogados e empreendedores que se encontraram na Estação da Cidadania é possível fazer um excelente trabalho.
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