Na foto, o projeto Esta es una plaza, terreno baldio que virou centro ambiental e cultural
Este fim de semana, o pessoal do Patio Maravillas, projeto de ocupação cultural de Madri, saiu às ruas para um protesto-apresentação com o objetivo de mostrar à população da cidade as atividades que vêm realizando nos últimos oito anos. Há algum tempo, o Patio perdeu sua sede, e por isso eles estão negociando com a prefeitura do Ahora Madrid um novo espaço próprio em que possam atuar. O patio reúne vários coletivos que atuam com cultura e política na cidade.
Em Madri, pós o levante dos indignados, há muitas experiências semelhantes de ocupação de espaços públicos e privados com fins comuns. Essas ocupações geraram um novo movimento cidadão por lá, muito interessante. São as extituições como propõem os teóricos espanhóis. Cidadãos reunidos em iniciativas autônomas. Por conta disso, o poder público está agora reagindo e em parceria com lideranças locais começaram a discutir um marco comum para parcerias cidadãs.
Em São Paulo também temos muitas iniciativas, com vários resultados muito interessantes. Minha sensação, porém, é que ainda estamos muito distantes de um poder público capaz de respostas efetivamente transformadoras. O caso do Parque Augusta é um dos mais emblemáticos, mas não o único.
Quando estive na prefeitura, na secretaria de cultura, desenvolver uma ação de promoção da ocupação urbana por grupos e projetos político-culturais foi um dos meus mantras nas reuniões internas de governo. Embora eu tenha encontrado muita adesão a essas ideias entre gestores públicos, pouco avançamos estruturalmente.
Os conflitos entre o Estado e as iniciativas de interesse público são constantes e não deveriam ser.
Recordo-me, por exemplo, que os coletivos que ocupavam o antigo prédio da regional do Campo Limpo, entre os quais a Trupe Artemanha (vencedor do prêmio de fomento ao teatro da prefeitura), tinham sido “despejados” pela subprefeitura que pretendia instalar ali um equipamento de saúde (consegui propor à época que pensássemos em uma ocupação comum entre os dois projetos, o da cultura e o da saúde).
Também tentamos buscar uma solução específica para reconhecer e fortalecer a ocupação do Sacolão das Artes, na Zona Sul da cidade. Sem falar na luta constante do Pombas Urbanas pelo seu galpão na Cidade Tiradentes.
No centro de São Paulo são várias as iniciativas em busca de um espaço para se desenvolver, como o Estúdio Lâmina, o Farol, a Casa Amarela… Indo mais fundo, temos no centro da cidade quase uma centena de ocupações do movimento dos sem-teto, em busca não apenas de moradia, mas de vida (o que não ocorre sem fruição cultural).
Há alguns anos, com a Casa da Cultura Digital, ajudamos a construir o Baixo Centro, que despertou uma série de debates sobre as relações entre cidade e cultura. Volto de Madri com a certeza de que as transformações sociais passam por iniciativas de novo tipo, para além de governos, empresas e ONGs, que nos devolvam a capacidade de fazer e modificar a história.
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